domingo, 12 de outubro de 2008

Arteterapia: experimente uma dose de arte como remédio

Numa definição simples, arteterapia é o uso terapêutico da atividade artística. No Espaço Humanus, em Gramado, a arteterapeuta Kira Burro oferece a oportunidade de vivenciar essa experiência que pode ajudar a superar traumas, problemas e até doenças por meio da arte.
Sua primeira sessão no Atelier Terapêutico é “sem compromisso”, literalmente para que você possa “experimentar”. No dia 14 de fevereiro, quinta-feira, das 18h30min às 20h30min, Kira Burro vai realizar uma sessão no Espaço Humanus, que fica na Rua Carlos Lengler Filho, 123 - bairro Planalto.


Criatividade para aliviar as dores
Pessoas que convivem com doenças, traumas e outras dificuldades na vida, bem como aquelas que buscam desenvolvimento pessoal, são pacientes em potencial para arteterapeutas. “Por meio do criar em arte e do refletir sobre os processos e trabalhos artísticos resultantes, os participantes do ateliê terapêutico podem ampliar o conhecimento de si e dos outros, aumentar a auto-estima, lidar melhor com o estresse e experiências traumáticas, além de desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico”, define Kira.

Arte + terapia
Arteterapeutas são profissionais com treinamento tanto em arte como em terapia. Conhecem o desenvolvimento humano, teorias psicológicas, prática clinica, artística e o potencial curativo da arte. Segundo a presidente da Associação de Arteterapia do Rio Grande do Sul - AATERGS, Angélica Shigihara de Lima, o arterapeuta auxilia o indivíduo a colocar-se em contato com conteúdos internos, muitas vezes ocultos, negados ou fantasiados. “É mais do que fazer arte como terapia. O indivíduo descobre ou redescobre a si mesmo, experienciando toda a sua potencialidade", descreve Angélica.

Tratamento para todos
A arteterapia pode ser feita individualmente, com casais, famílias, grupos ou comunidades, independente de idade, sexo ou escolaridade, utilizando-se de diferentes linguagens. A palavra pode ser aplicada por meio de contos de fadas, criação de poemas, monólogos, dramatizações, teatro, fantoches e diálogos. O som através de diálogos musicais, sons guturais, instrumentos musicais, escuta e gravação de sons da natureza, das vozes, de aparelhos e outros ruídos. O movimento é usado com dança, expressão corporal, teatro. Na expressão plástica, utiliza-se da cor, formas bi e tri-dimensional, textura e ritmo com os mais diversos materiais plásticos (tintas, argila, papel machê, desenho com lápis de cera, colagem, entre outros), sucatas ou materiais da natureza (areias, sementes, galhos, pedras, penas, etc).

Plenitude de vida
“Um bom encontro arteterapêutico propicia o auto-conhecimento, estimula a criatividade, potencializa a auto-estima ou a resolução de conflitos pessoais, familiares e grupais para quem atravessa processos de luto ou separação”, exemplifica Angélica. A arteterapia potencializa a reabilitação do paciente agregada ao trabalho de profissionais de outras áreas, que incluem saúde física e mental, centros de recuperação, escolas, instituições sociais, empresas, hospitais, entre outros. “Trabalhando as emoções, a arteterapia promove uma vida mais plena. Em trabalhos multidisciplinares, pode oferecer subsídios para diagnósiticos mais precisos. Em reabiliação, ajuda a superar a dor”, conclui.

Arteterapeutas
A Associação de Arteterapia do RS, fundada em 2002, conta com cerca de 70 profissionais filiados. A associação surgiu por iniciativa de um grupo de profissionais no 1° Fórum Nacional de Arteterapia, realizado em Ouro Preto/MG. A presidente da entidade resslata que o trabalho está focado na divulgação da profissão e dos seus associados. Kira Burro é uma das sócias fundadoras da AATERGS. Arte-educadora, especializada em Arteterapia pela Universidade São Judas Tadeu – USJT, de São Paulo, em 2000, e pelo Instituto da Família de Porto Alegre – Infapa, em 2005, Kira já coordenou arteterapia para os pacientes de câncer avançado no Instituto Day Care Center, em São Paulo, e trabalhou no Hospital Central do Carandiru com os presidiários portadores de Aids. Em Gramado, coordenou o Spa Artístico Château das Artes e hoje em dia atua na Apae de Gramado, além do Espaço Humanus.

http://gramadosite.com.br/cultura/artes/id:14993

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

ARTETERAPIA Pintando para a liberdade

ZERO HORA. 06 de setembro de 2008

Oficinas supervisionadas por arteterapeutas estimulam a sociabilidade e resgatam a auto-estima de pacientes com transtornos psiquiátricos graves
Os maus resultados e o isolamento na escola eram um sinal de que Gilson de Oliveira Treméa, 36 anos, era diferente das outras crianças. Na juventude, a agressividade repentina insistia em provar que essa diferença era maior do que a família podia supor e com a qual o menino podia lidar. Enquanto médicos erravam o diagnóstico, o jovem abandonou os estudos, teve de deixar um emprego, depois, outro, e viu os amigos se afastarem.
A esquizofrenia esvaziou a agenda de Gilson.
Depois de cerca de cinco anos de investigação médica e mais de R$ 9 mil gastos em remédios e consultas particulares, finalmente a doença foi detectada. Há mais de três anos, o paciente foi encaminhado, por um médico da rede municipal de Alvorada, a oficinas de arteterapia em Porto Alegre. Desde então, as aulas nas quartas e quintas-feiras passaram a ocupar a semana inteira de Gilson.
Quando não está no Projeto Vivendo e Reaprendendo, do Centro de Prevenção e Intervenção em Psicoses (CPIP), no bairro Rio Branco, na Capital, está em casa contando ao pai e aos vizinhos sobre os eventos realizados na entidade ou sobre suas produções no encontro anterior.
– Esse projeto é uma beleza. Ele ficou mais calmo, controlado, e voltou a falar com as pessoas, porque antes não era muito conversador – comemora o pai, o aposentado Victório Angelo Treméa
Com o Ensino Médio incompleto, um emprego de ascensorista e um curso de bateria para automóveis no currículo, Gilson jamais tivera contato com as artes plásticas antes do projeto. Descobriu o gosto pela pintura – e o talento – nas aulas supervisionadas pela psiquiatra Sandra Maria Soares, presidente fundadora do CPIP.
Na entidade onde cerca de 15 voluntários trabalham para atender 30 pacientes, ele ganhou, além de uma nova rotina, novos amigos, e recuperou a auto-estima. Os ônibus que têm de pegar para chegar ao Centro e o horário a cumprir dão a Gilson a autonomia e a responsabilidade necessárias nos afazeres da casa onde mora sozinho, próxima à do pai, em Alvorada. Mas as atividades do projeto lhe devolveram muito mais do que essa independência.
– Com a doença, ele acaba ficando fora da vida social. Não tem namorada, não estuda, não trabalha, isso tudo que preenche nossa vida e é tão gostoso. De certa forma, o projeto devolveu a pulsão da vida ao meu irmão – conta a psicopedagoga Gisele Treméa Vargas, 43 anos.
Ele conta que gosta do ambiente tranqüilo do CPIP, “onde ninguém o incomoda”, e, ao mesmo tempo, adora conversar com os voluntários e colegas. Nos recessos de inverno e verão, tem saudade das aulas e preenche o tempo com partidas de canastra, filmes aos quais assiste em casa e responsabilidades passadas pelo pai, como pagar contas no banco ou ir ao supermercado.
Ao falar sobre a evolução no quadro clínico dos doentes, Sandra abre um sorriso e conta a história de outra paciente do Sistema Único de Saúde, Maria Jurema Martins Teixeira, 48 anos. Portadora de transtorno do humor, ela começou no projeto há três anos, apresentando um quadro de depressão gravíssimo que a levou à tentativa de suicídio.
– Pagamos um curso para que ela aprendesse a mexer na máquina de costura. Depois, outro para aprender o corte. Começou com a ajuda das voluntárias e hoje produz sozinha, em casa, bolsas de tecido – conta Sandra.
Nos bazares dos quais a ONG participa, Maria fica responsável pela banca das bolsas e voltou a trabalhar na loja da irmã como vendedora, profissão que tinha antes de a doença surgir.
Multimídia
Gilson Treméa, 36 anos, diagnosticado como esquizofrênico depois de cinco anos de peregrinação por consultórios médicos, freqüenta oficina de pintura duas vezes por semana


06 de setembro de 2008
ARTETERAPIA
Estar doente não é pré-requisito
Complementares e numerosos no tratamento dos doentes mentais, os benefícios da arteterapia se estendem às pessoas sãs. Por meio de desenhos ou expressões corporais, os pacientes falam de si, o que fornece informações ao médico e ao próprio paciente. Para casos menos graves, como estresse ou certos níveis de depressão, as sessões podem ser o tratamento principal, dependendo da formação do arteterapeuta.
Tão importante quanto os frutos dessas oficinas, como aumento da auto-estima e reinserção social, é o próprio processo criativo. Ele é o sinal de um cérebro saudável.
– Qualquer atividade criativa desenvolve novas áreas neuronais e pode estimular aquelas lesionadas – explica a arteterapeuta Marilice Costi, (AATERGS 072/0808) que dá aulas em Porto Alegre.
Cada vez mais, pessoas procuram por conta própria as sessões de arteterapia, sem encaminhamento médico, em busca de qualidade de vida, uma conseqüência do autoconhecimento proporcionado pelas aulas. A presidente da Associação Brasileira de Arteterapia, Joya Eliezer, atribui essa difusão da técnica ao ritmo acelerado da vida moderna. O próprio termo, para Joya, é um chamariz. São poucas as pessoas que não gostam de trabalhar com as artes, afirma.
Não é necessário ter habilidade ou experiência na técnica. O importante, observa Marilice, é a liberdade de expressão, sem rigor estético. Do teatro à escrita, existem diversas linguagens com enfoque terapêutico.
No Brasil, as artes plásticas são as mais difundidas, mas, recentemente, novidades como a biblioterapia – que estimula a leitura e a escrita – estão ganhando espaço no tratamento. Para Joya, não existe uma oficina certa para cada tipo de doença, depende do gosto e da habilidade do paciente. Por isso, ela defende que o arteterapeuta tenha formação múltipla.
A arteterapeuta e doutora em psicologia clínica explica que a diferença entre uma aula de dança ou pintura para as oficinas de arteterapia está na formação do profissional:
– O oficineiro não faz o gancho de tudo aquilo que o aluno expressa nas aulas com a sua vida, como faz o arteterapeuta.
Nos casos em que as oficinas são complementares ao tratamento medicamentoso, a arteterapeuta Maria Helena Piccinini,(AATERGS 022/0505) dona de um ateliê e voluntária no Projeto Vivendo e Reaprendendo, do Centro de Prevenção e Intervenção em Psicoses, chama a atenção para a necessidade de haver diálogo com o médico ou psicólogo que encaminha o paciente para as oficinas. Essa troca vem sendo exitosa em escolas de São Paulo, com o enfoque na prevenção de problemas que, muitas vezes, passam despercebidos aos professores.
Na Capital, a arteterapeuta Maria Helena também percebe crescimento no número de pessoas sadias e de todas as idades na descoberta da técnica. Ela defende a arteterapia em um contexto no qual as palavras não dão conta das manifestações emocionais.
– As sessões permitem o conhecimento de si e dos outros, elevam a auto-estima, permitem lidar com experiências traumáticas, e, acima de tudo, desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico. Sessões de arteterapia estimulam o autoconhecimento e não requerem a indicação de um médico
06 de setembro de 2008
CAPA
Criatividade que cura
Arteterapia complementa o tratamento em casos de transtornos de humor e doenças mentais e alivia os sintomas de quem sofre com o estresse
No palhaço sem braços feito de cerâmica, uma paciente esquizofrênica expressa o medo de se tornar incapaz. Na gruta disforme, a referência à relação com o pai, que pagaria uma promessa pela saúde da filha. Mensagens jamais ditas no consultório surgem em oficinas artísticas, fato cada vez mais comum no tratamento de doentes mentais. Conhecida como arteterapia, essa abordagem abre um novo canal de comunicação entre médico e paciente e complementa o tratamento de quem tem de lidar com disfunções psiquiátricas para o resto da vida.
De acordo com o psiquiatra Marcelo Borges Leite, não existiria uma pré-disposição para a arte nos doentes mentais, mas são raros os pacientes que não se adaptam a atividades lúdicas. Professor de psiquiatria da UFRGS, Flávio Kapczinski afirma que atividades artísticas são freqüentemente alimentadas em momentos de estresse emocional:.– Quem está em sofrimento mental tem uma propensão à criatividade. Temos evidências de que, nesses períodos, há formação de novas memórias. Os pacientes têm o desejo de colocar no papel o que estão sentindo – ressalta.
Aulas de pintura, costura ou música, coordenadas por arteterapeutas, podem ajudar desde estressados até quem sofre de transtornos psiquiátricos graves. Nesses casos, a arteterapia ajuda a distinguir o real do imaginário.
– Ao focar em uma atividade prática, os pacientes aprendem o que é a sua realidade. Podem continuar tendo alucinações, mas saberão que aquilo não faz parte do mundo real – explica a psiquiatra Sandra Soares.
O estímulo deve ser constante, criando uma rotina. O Projeto Vivendo e Reaprendendo, do Centro de Prevenção e Intervenção em Psicoses, na Capital, do qual Sandra é presidente, só recebe pacientes com transtornos de humor e esquizofrenia, que normalmente surgem na vida adulta e não têm cura.
– Essas pessoas perdem aquilo que nós, sãos, fazemos no piloto automático, como levantar, escovar os dentes e sair para trabalhar – cita.
Outro aspecto recuperado nas oficinas é a capacidade de se relacionar socialmente. Em grupo, os pacientes tomam consciência de sua condição a partir da experiência do outro. Há nove anos no trabalho com a arteterapia, Sandra conta que quem já era habilidoso em alguma área antes da doença não perde o dom, mas quem não era artista pode descobrir em si algo que nunca fora estimulado.
Os resultados se refletem em telas coloridas e no sorriso de quem recupera a auto-estima.
marcela.donini@zerohora.com.br
MARCELA DONINI

06 de setembro de 2008
ARTETERAPIA Estar doente não é pré-requisito
Complementares e numerosos no tratamento dos doentes mentais, os benefícios da arteterapia se estendem às pessoas sãs. Por meio de desenhos ou expressões corporais, os pacientes falam de si, o que fornece informações ao médico e ao próprio paciente. Para casos menos graves, como estresse ou certos níveis de depressão, as sessões podem ser o tratamento principal, dependendo da formação do arteterapeuta.
Tão importante quanto os frutos dessas oficinas, como aumento da auto-estima e reinserção social, é o próprio processo criativo. Ele é o sinal de um cérebro saudável.
– Qualquer atividade criativa desenvolve novas áreas neuronais e pode estimular aquelas lesionadas – explica a arteterapeuta Marilice Costi, que dá aulas em Porto Alegre.
Cada vez mais, pessoas procuram por conta própria as sessões de arteterapia, sem encaminhamento médico, em busca de qualidade de vida, uma conseqüência do autoconhecimento proporcionado pelas aulas. A presidente da Associação Brasileira de Arteterapia, Joya Eliezer, atribui essa difusão da técnica ao ritmo acelerado da vida moderna. O próprio termo, para Joya, é um chamariz. São poucas as pessoas que não gostam de trabalhar com as artes, afirma.
Não é necessário ter habilidade ou experiência na técnica. O importante, observa Marilice, (AATERGS 072/0808) é a liberdade de expressão, sem rigor estético. Do teatro à escrita, existem diversas linguagens com enfoque terapêutico.
No Brasil, as artes plásticas são as mais difundidas, mas, recentemente, novidades como a biblioterapia – que estimula a leitura e a escrita – estão ganhando espaço no tratamento. Para Joya, não existe uma oficina certa para cada tipo de doença, depende do gosto e da habilidade do paciente. Por isso, ela defende que o arteterapeuta tenha formação múltipla.
A arteterapeuta e doutora em psicologia clínica explica que a diferença entre uma aula de dança ou pintura para as oficinas de arteterapia está na formação do profissional:
– O oficineiro não faz o gancho de tudo aquilo que o aluno expressa nas aulas com a sua vida, como faz o arteterapeuta.
Nos casos em que as oficinas são complementares ao tratamento medicamentoso, a arteterapeuta Maria Helena Piccinini, (AATERGS 022/0505) dona de um ateliê e voluntária no Projeto Vivendo e Reaprendendo, do Centro de Prevenção e Intervenção em Psicoses, chama a atenção para a necessidade de haver diálogo com o médico ou psicólogo que encaminha o paciente para as oficinas. Essa troca vem sendo exitosa em escolas de São Paulo, com o enfoque na prevenção de problemas que, muitas vezes, passam despercebidos aos professores.
Na Capital, a arteterapeuta Maria Helena também percebe crescimento no número de pessoas sadias e de todas as idades na descoberta da técnica. Ela defende a arteterapia em um contexto no qual as palavras não dão conta das manifestações emocionais.
– As sessões permitem o conhecimento de si e dos outros, elevam a auto-estima, permitem lidar com experiências traumáticas, e, acima de tudo, desfrutar do prazer vitalizador do fazer artístico. Sessões de arteterapia estimulam o autoconhecimento e não requerem a indicação de um médico.